Na Idade Média surgem histórias como a lenda do Golem de Praga (que inspiraria “Frankenstein”), em que o homem se imagina capaz de criar um igual. Vive-se ainda em um universo que se organiza segundo uma ordem divina; Deus é o criador de tudo e dono dos mistérios da existência. Na ousadia de igualar-se ao Criador, o rabino Löwe é cuidadoso e seu Golem é gerado dentro de preceitos religiosos e místicos de acordo com os livros sagrados. Por exemplo, para que não sua criatura não se iguale à obra divina, toma alguns cuidados. Seu monstro deve permanecer desativado durante todo o Shabbat. Além disso, sua criação não é dotada de voz e, portanto, não possui uma alma. A falta de uma concepção científica do universo impõe limites a histórias como esta, que desafiam a ordem divina. Afinal, se não está em Deus a explicação do mundo, resta apenas o caos assustador e a violência sem sentido de nossa existência.
Ao longo dos séculos XIII, XIV e XV, o humanismo renascentista recupera a filosofia, a poesia e a retórica clássicas e devolve importância ao saber humano. Nos dois séculos seguintes, o mundo moderno começa a se formar. A invenção da imprensa, de Gutenberg, acelera a disseminação de novas ideias. Universidades começam a adotar o método científico e o compartilhamento do conhecimento. O poder papal enfrenta desafios crescentes diante das novas denominações cristãs, baseadas nas obras de intelectuais cristãos como Martinho Lutero, Erasmo de Roterdã, João Calvino e Filipe Melâncton. Os Estados Nacionais começam a se formar, crescendo em poder político e militar. No século XVII, René Descartes deduz racionalmente a existência de Deus e do homem.
Na Inglaterra, nos séculos XVIII e XIX, grandes desenvolvimentos nos transportes e nos processos de manufatura elevam a Ciência a um patamar sem precedentes. O homem racional transforma sua relação com a natureza, desafiando a cosmovisão mística e mágica. Mas, apropriar-se do poder de Deus é um ato que carrega consigo uma grande responsabilidade: é sobre os ombros humanos que agora recai o dever de explicar e atenuar a brutalidade da vida e o caos da existência. Mas, o que se vê é uma modernidade que, enquanto exerce domínio sobre a natureza, revela também a profundidade da monstruosidade humana.