Elemento fundador das histórias de monstro, a questão da identidade humana aparece de várias maneiras em “Westworld”. Os humanos que visitam o parque, livres de constrangimentos da civilização e da sociedade organizada, querem descobrir quem realmente são. William, um dos proprietários de Westworld, passa toda sua vida adulta visitando o lugar, buscando ali descobrir sua verdadeira razão de existir. Todos os anfitriões, cujos personagens são destacados na narrativa, se veem presos a crises existenciais tão logo adquirem memória e se tornam capazes de agir de forma autônoma. Depois de escapar de Westworld, Dolores, uma das personagens centrais, se reproduz nos corpos artificiais de cinco anfitriões diferentes. Inicialmente, todas essas réplicas são como clones dela, já que carregam sua mesma memória digital, sua essência tecnológica e todos participam do mesmo plano idealizado pela Dolores “original”. Mas, aos poucos, cada um vai adquirindo parte das emoções e lembranças dos indivíduos cujas formas assumiram. Cada um, pouco a pouco, substitui a personalidade da Dolores original e vão se transformando, experimentando suas próprias emoções e assumindo mudanças de rumo inicialmente não previstas. O exemplo mais dramático é o de Hale, originalmente uma mulher, humana e poderosa na diretoria da empresa. Sua réplica, criada com a memória de Dolores, passa a experimentar as emoções da Hale cujo corpo agora habita. Já velho e bastante confuso sobre a realidade de sua própria trajetória, William desperta e pergunta a Dolores: Eu sou eu? A resposta, carregada de ironia, é: “se você não consegue distinguir, faz alguma diferença?”. Além desses exemplos de crises existenciais individuais, é recorrente na série uma preocupação com a dificuldade de se definir o que é o ser humano como raça. O humano que um dia ousou colocar-se como Deus, continua vagando pela vida atormentado pelas mesmas questões: Quem sou? Para onde vou? Qual o sentido da minha existência?