Em contraste com povos ditos civilizados, onde se entende que o cumprimento das leis assegura o funcionamento da estrutura social, o brasileiro vive numa constante negociação entre a rigidez das hierarquias da vida pública e a flexibilidade das normas domésticas e afetivas. Um inglês, um americano, um francês, por exemplo, sabe quem é e como deve se portar em público. Nós cultivamos o conflito entre a regra e o desejo. Na frouxidão dos limites, nos tornamos malandros, burlando o estabelecido para obtermos nossa satisfação pessoal. Os quatro dias de carnaval são a celebração desse desfazer das fronteiras, dos limites, e cada um veste sua fantasia afirmando o que é, ou o que gostaria de ser. Na folia, nos fazemos caricaturas de nós mesmos, de nossos preconceitos, de nossas instituições, dos grandes nomes e das vergonhas da pátria. A caricatura é a representação distorcida, que ressalta o ridículo e o grotesco, com ironia ou sarcasmo.
Caricatura passa pela palavra italiana “carattere” (caráter), e “cara”, em espanhol (rosto), e o caráter e o rosto são o ponto de partida de uma caricatura. É o que se vê na tradição dos bonecos gigantes, os mais conhecidos sendo aqueles que desfilam em Olinda. O primeiro boneco gigante brasileiro foi Zé Pereira, em 1919, na cidade de Belém do São Francisco (PE), inspirado naqueles das procissões religiosas da Europa. A tradição pernambucana começou em 1932, com o Homem da Meia Noite, seguido, em 1937, pela Mulher do Meio Dia. Em 1974 aparece o Menino da Tarde e logo se criou o Encontro dos Bonecos Gigantes, onde vários bonecos de diversos artistas se encontram para um grande desfile pelo sitio histórico de Olinda, na terça de carnaval. Em 2008 surgiu a nova geração desses bonecos, que impressionam pelo grande realismo das expressões faciais e figurinos. São o deboche das personalidades que no resto do ano nos guiam. No carnaval, todo mundo é um monstro feliz!
“E viva o Zé Pereira.