DE “FRANKENSTEIN” A “WESTWORLD” PARTE 3 – O HOMEM RACIONAL: O MONSTRO NO ESPELHO

“Frankenstein” (1823), de Mary Shelley, viria explicitar os novos paradoxos desse homem racional e moderno. Às velhas angústias se somam questionamentos existenciais gerados por esse novo tempo histórico. Agora, a maldade humana e sua violência não podem ser simplesmente atribuídas à ação de demônios e outros seres sobrenaturais. A violência humana não é mais fruto de forças externas que não controlamos, mas de algo que existe em cada um de nós. Poucas décadas depois, nasceria Sigmund Freud, que eventualmente apontaria para o abismo sombrio que nos habita, e do qual tão pouco sabemos.

Graça à ausência de um nome, mas também à dificuldade em decidir quem é o verdadeiro monstro, o leitor passou a atribuir à criatura o nome de seu criador.  A falta de um nome para este monstro pode ser explicada por sua condição inédita, um ser que escapa a qualquer explicação, mística ou natural. Sua simples existência contraria a lei da natureza, de que somente a vida gera nova vida. Agora, a morte é uma força criadora. E as consequências disto estão historicamente ilustradas pelas duas guerras mundiais, e pelas condições das fábricas do século XIX e começo do século XX, onde milhares de trabalhadores, inclusive mulheres e crianças, eram mutilados ou mortos em acidentes de trabalho, em jornadas longas e cruéis. Nas artes surge o Futurismo, que celebrava a beleza da tecnologia, de sua velocidade e seu poder de destruição.

Publicado no contexto da Revolução Industrial, “Frankenstein” traz em seu bojo o mito do eterno desenvolvimento tecnocientífico, de um progresso tecnológico essencialmente positivo e sem fim. Sua sugestão de uma ciência capaz de gerar vida a partir da morte traz a possibilidade da nossa imortalidade. Ser imortal nos assemelha a Deus, abalando nossa ideia de “humano”. Se nossa imortalidade não mais se limita à salvação de nossas almas, mas inclui nossa eternização física, então nossa concepção de vida tem que ser redefinida.

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