DE “FRANKENSTEIN” A “WESTWORLD” PARTE 7 – E O HOMEM CRIOU DEUS

“Westworld” é uma digna descendente do livro de Mary Shelley. Revive e atualiza a terrível angústia dos personagens de “Frankenstein”, o horror em sua alma e no seu projeto racionalista para o mundo. Assim como a narrativa do doutor e sua criatura sem nome, a série de TV nos faz refletir sobre a origem, o significado e o destino de nossas vidas e, até, sobre o próprio conceito de vida. Para Shelley e seus contemporâneos, o mundo racional e industrializado que se instalava era novo, fascinante e aterrador. Frequentemente, é também com fascínio e horror que os personagens de “Westworld” experimentam seu mundo.

Passados dois séculos, o choque entre a visão da existência como produto da ação divina ou resultado da criação científica deixou de ser experimentado como novo. A ciência que desalojou Deus se tornou igualmente misteriosa e onipotente. E aterradora. É o que vemos em “Westworld”. Em sua distopia, o confronto foi vencido pelo homem racional, que depois de matar Deus, de criar um mundo, deu um passo além e gerou seu próprio Deus, um deus tecnológico, um mecanismo esférico de inteligência artificial chamado Rehoboam. Agora, Deus é criatura do homem, numa sociedade totalmente conectada, onde as interfaces entre o humano e o digital se tornaram quase invisíveis. E uma única máquina, criada para planejar a vida e o destino de toda a raça humana, está no controle. Em todas as projeções calculadas pelo Rehoboam, a humanidade eventualmente se destrói. Para assegurar a permanência de nossa raça, seleciona os que devem morrer. É neste contexto que os antigos anfitriões do parque, agora uma nova espécie, irrompem para tomar nosso lugar no planeta.

Como Mary Shelley, “Westworld” lança um olhar cuidadoso e bastante pessimista sobre tudo que envolve a ideia de humano. A série de TV foi interrompida pela pandemia do covid-19, na terceira temporada. Quando sua produção for retomada, voltaremos ao tema.

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